8.11.10

MANAUS, OBRIGADO!

14 de janeiro de 1980.

Testa colada na janelinha ovalada do avião. Olhar maravilhado. Quanta água. Que coisa estranhamente linda aquela visão de águas turvas e pretas, paralelas e mistas a perder de vista.

Do avião, ainda, um olhar de incredulidade. Como? Um aeroporto como esse? Toda essa modernidade? Estou na cidade certa?

Esteiras? Poxa, olha, mala vindo de esteira. E o saguão? Fervilhando ao burburinho de incontáveis passageiros e idiomas.

E na saída aquele calor que lembrava a boca de uma fornalha a pleno funcionamento na olaria do Tio Puvi.

O olhar para o interminável espaço azul ou para o verde inesgotável no horizonte, aqui, agora bem próximo, relembrando várias horas de vôo contemplando um tapete verde escuro, aqui e acolá marcado por fortes tons roxos ou amarelos, a denotar espécies exóticas ou o multicolorido bando de aves a passar alhures.

Depois de alguns quilômetros, o carro adentra numa avenida e as surpresas vão se acumulando. Um jovem curioso, cigano e cheio de esperanças vai ficando atônito.

14 de janeiro de 1980. Mais ou menos no meio da tarde. Céu de brigadeiro. Coração de menino. Cheguei. O sonho de uma vida, quem sabe, estava se concretizando.

Manaus. Cheguei. Manaus, Amazonas. Aqui estou.

E, entre idas e vindas pelo resto do país e um pouco do mundo, aqui estou ainda. Sem vontade de sair. E quando saio, ah!, dá uma vontade danada de voltar logo.

Naquele ano Manaus completaria 311 anos. Agora, essa criança, malandra, doce, que ginga diferente no caminhar malemolente de seu povo, chega a 341 anos.

Na janela do tempo, trinta anos passaram. Mas parece muito mais. Já não encontro mais lugar para tomar um banho na Ponte da Bolívia, que era uma viagem a ser programada com muita antecedência. Um banho no Igarapé do Mindu, que era ali menos longe e possuía até agua, além de limpa. Já não tem mais.

A Manaus de hoje traz o reflexo de seu acelerado progresso. De seu acelerado crescimento populacional. Da mudança de Zona Franca comercial para Polo Industrial. Mudanças que o seu povo maravilhoso viu, mas não sentiu.

O aeroporto que deslumbrou-me ainda menino chegando, agora não passa de triste realidade no atraso carcomido de tantos exemplos da coisa pública que ficaram na marcha de uma paralisia inaceitável para a grandeza da cidade, para a grandeza de seu povo. E a grandeza dessa cidade agora grande está na relação direta do grande povo com muita grandeza, pois que merecida a redundância.

Manaus reflete agora os males de ser grande. Em malas de barcos ou aviões ou nascimentos infortunados, recebeu as chagas da violência, por vezes desmedida, sempre insana e profundamente lamentável. Progresso ou regresso? De qualquer sorte não é esse o preço a pagar.

Manaus, onde o calor maior não é do sol incandescente e escaldante, mas do seu povo, alegre e aconchegante. Manaus de um povo que recebe os estrangeiros com o mesmo calor que lhe oferece o sol.

Manaus, que beleza é você Manaus.

Manaus, minha terra, porque eu escolhi. Foi opção. É paixão.

Manaus, quisera poder abraçar todo o teu povo, um a um, só para dizer: obrigado!

5.7.06

OS MAIORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS

Brasileiro FANÁTICO que sou -(pela minha terra, por nossa gente e por nosso futebol)-, quero expressar minha alegria, imensa, pela vitória da França. Quedei-me, circunspecto, a refletir sobre suas consequencias e concluo que a vitória em campo, trazer-me-ia a felicidade da vitória com a amarga CERTEZA da derrota.

Mesmo porque diante de expressiva demonstração de mediocridade e apatia, exceto por alguns atletas NADA patriotas, à frente o gigante Lúcio, o guerreiro Juan e o fantástico Zé Roberto. Estes, apesar da FALTA de patriotismo, representaram-me. Simbolizaram o espírito BRASILEIRO da aliança entre a superação, a vontade, o orgulho, a alegria de viver e a dedicação de todo um povo.

Um povo QUE samba enquanto chora o ente querido levado pela violência; QUE dança boi bumbá logo depois de se ter refestelado em banquete de chibé (obs.: farinha com água, mesmo); QUE sai às ruas para cantar - emocionado - o HINO NACIONAL, apesar da quantidade incontável de poços de lama fétida abertos pelo congresso; QUE canta esse HINO em homenagem aos ídolos covardes (com as honrosas exceções), à falta de ídolos da pátria mãe, que já não é gentil; QUE deposita esperança de alegrias, grandeza e vaidade, sobre PÉS de gênios com talento nato (raros) e outros (muitos) fertilizados por "pais" (marqueteiros) mais geniais ainda; QUE canta refrões cuidadosamente produzidos ao som de melodias psicologicamente preparadas, expressando sua emoção, apesar desses versos serem contratados, veiculados e massificados com PAGAMENTO por dinheiro público, através de suas melhores empresas PÚBLICAS ; QUE acreditou na esperança, na paz e no amor, mas recebeu o desprezo, a guerra de trincheiras verbais e o desrespeito, todos expressados no mensalão, nos mensalinhos, nos sanguessugas, etc.

Enfim, conhecemos todos - nós aqui os privilegiados que sabemos ler, escrever e a diferença entre responsabilidade e amnésia, e ainda, suprema ironia, utilizamos computador, dou-me ao desplante de usar PowerBook G4 Aluminiun - QUE nossa brava gente, sem temor servil, não quer festejar derrotas, que se concentra em aplaudir seus ídolos no esporte como se fossem heróis nacionais, por falta de heróis nacionais. blá, blá, blá, blá, ... E asssim eu poderia ficar aqui eternamente escrevendo sobre uma nação valorosa de si e vaidosa de sua gente varonil, a bradar, retumbante, seu amor pelo BRASIL.

Mas quero referir-me aos maiores brasileiros contemporâneos. Quero prestar minha homenagem e meu agradecimento primeiro ao Carlos Alberto Parreira, depois ao Roberto Carlos, ao Emerson, ao Ronaldinho, ao Ronalducho, ao Adriano, ao Juninho, e outros menos cotados, mas do mesmo "time", pelo competente trabalho em favor do Brasil. Em favor daquele BRASIL do futuro, para o qual seu povo precisa parar e pensar para decidir sobre esse FUTURO. Percebam, senhores e senhoras desta terra que já não tem palmeiras, que a teimosia do Parreira em ser burro, a vaidade do Roberto Carlos ao arrumar seus meiões e a INCOMPETÊNCIA do Dida ao não sair para uma bola na pequena área, nada mais foram do que sinais de patriotismo. Pensavam eles, naquele momento, no futuro da nação. Exemplos de grandes brasileiros que ao interromper nossa euforia desenfreada, nos colocam a pensar em nossos filhos e no país que desejamos deixar como legado.

Cheguei a preocupar-me com a desenvoltura com a qual o Lúcio, o Juan e o Zé Roberto, permanentemente, escudados por Robinho, Fred, Cicinho, Gilberto e outros alucinados, tentavam estragar as coisas. Teimavam ser diferentes. Imaginem, queriam jogar bola. Pior, queriam GANHAR.

Falta, não posso olvidar-me, falar do maior de todos os brasileiros da atualidade: ZINEDINE ZIDANE. Obrigado, Zidane, pelo ensinamento de humildade, de seriedade, de competência, de superação e, acima de tudo, obrigado por mostrar-nos que nunca é tarde para acertar, mesmo aos 34 anos. Voce e seus companheiros, ajudaram um país inteiro a parar para pensar. Valeu.

Agora, com os exemplos dos Lúcios, dos Juans, dos Zés, dos Robinhos, dá até para acreditar que a gente possa ter futuro. Morta a euforia, vamos ver que está em tempo de decidir o futuro, de lembrar dos valérios, do caixa dois, dos mensalistas, do ….., dos políticos que temos, das campanhas, das promessas de paz e amor, DA ELEIÇÃO !!!!!

27.6.06

O monumento!

Eu que conheço tantos lugares e tantas coisas, enfim fui conhecer o monumento à independência. Que não houve. Que está longe de acontecer. Ser independente pressupõe ter liberdade e também o direito de exercê-la. Para exercer ser independente é preciso saber o que é liberdade, o que é o direito, o que é o exercício. Falta pouco. Somente algumas gerações. Nesse futuro , ainda que tardio, nossos descendentes hão de ter educação, saúde, segurança, etc. Condições elementares. Aí então, poderão gritar: INDEPENDÊNCIA É VIDA!

9.11.05

V I D A S

É complicado viver a vida sem que a nossa vida seja invadida pela vida de intrusos.
Nunca chamados, nunca benvindos.
Que vivem sua vida em função de outras vidas, quando deveriam viver a própria vida.
Falta-lhes a simplicidade de assumir suas vidas.
Ou de perceber que podem ter vida, mesmo que seja a do vegetal, que passa ao largo de vidas, a contemplar vidas que não pode viver.
A vantagem do vegetal é que não fala de vidas.
Não julga vidas.
NÃO ACABA COM VIDAS.